Crise administrativa no Corinthians se agrava com sucessivas saídas na gestão de Augusto Melo

A presidência já acumula 18 baixas em cargos de liderança em apenas 16 meses.

Em meio a um cenário cada vez mais instável dentro do Sport Club Corinthians Paulista, a gestão do presidente Augusto Melo vive um momento de profunda crise administrativa.

Desde que assumiu a presidência em janeiro de 2024, Melo viu se intensificarem os desafios de sua administração, marcada por trocas recorrentes em postos-chave, tensões políticas, rupturas internas e pressões externas de torcedores, conselheiros e até membros da oposição.

Até o início de maio de 2025, 18 dirigentes já deixaram cargos de diretoria ou superintendência no clube, desenhando um panorama preocupante para o futuro da atual gestão.

A mais recente baixa foi confirmada nesta sexta-feira, 2 de maio: a saída de Thales Cezar de Oliveira, que ocupava o cargo de Diretor de Relações Institucionais do clube. Thales estava no Corinthians desde o início da gestão de Augusto Melo e conciliava sua atuação no clube com o cargo de Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo. Sua função no Parque São Jorge era estratégica: ele mantinha o relacionamento com órgãos públicos e privados, atuando como elo com entidades como a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e a National Football League (NFL), esta última participante de eventos no clube em 2023.

Saída de Thales aprofunda instabilidade institucional

A demissão de Thales Cezar ocorre poucos dias após uma nova leva de desligamentos relevantes nos bastidores do clube.

Vinicius Manfredi, então superintendente de marketing, Luís Otávio Costa, gerente da mesma área, e Sandor Romanelli, superintendente comercial, também deixaram seus postos. Essas perdas representam não apenas a rotatividade de profissionais na gestão atual, mas a ruptura de projetos e estratégias recém-implementadas, que sequer tiveram tempo hábil de serem avaliadas em seus resultados.

Além disso, com essas novas saídas, o clube agora enfrenta mais uma indefinição importante: a ausência de um nome definitivo para liderar a diretoria financeira.

Internamente, chegou-se a cogitar o nome de Raul Corrêa,  atual diretor do departamento cultural. No entanto, até o momento, não houve confirmação oficial, o que amplia a sensação de improviso e descontinuidade que permeia a administração alvinegra.

Reestruturações e cortes aprofundam as rupturas.

A instabilidade não se limita aos cargos executivos. Na última quarta-feira, o Corinthians anunciou oficialmente a rescisão contratual com a consultoria Alvarez & Marsal, responsável desde julho de 2023 por realizar um diagnóstico interno das finanças e da gestão do clube. Segundo nota divulgada pelo próprio Corinthians, o fim do vínculo deu-se “em comum acordo“, dentro do escopo de uma reestruturação interna voltada à redução de custos

No entanto, nos bastidores, a decisão está diretamente associada à saída de Fred Luz, consultor vinculado à Alvarez & Marsal e que atuava como CEO informal do clube até fevereiro deste ano. O contrato com a consultoria, que previa o pagamento mensal de R$ 300 mil até 2026, era visto como um compromisso pesado para a atual realidade financeira do clube, mesmo diante dos recordes de arrecadação em 2024.

Recorde de receita contrasta com cenário de instabilidade

O paradoxo que marca a atual gestão é evidente. Apesar de ter atingido um faturamento recorde de R$ 1,115 bilhão em 2024— número inédito na história do Corinthians —, a gestão Augusto Melo sofre com um desgaste contínuo gerado pela instabilidade política, denúncias ligadas a patrocínios e falta de governança estrutural. A crise também se manifesta nos frequentes pedidos de impeachment, que voltaram a surgir no Conselho Deliberativo nesta semana, após uma nova avaliação do primeiro ano da atual administração.

Para conselheiros que pedem a saída de Melo, a instabilidade tem se mostrado prejudicial ao bom funcionamento do clube. A alternância constante de executivos impede que projetos de médio e longo prazo ganhem corpo, especialmente em áreas estratégicas como marketing, comunicação, jurídico e finanças.

Relação com o Conselho e oposição se deteriora.

Desde a posse, Melo tem enfrentado resistências por parte de membros do Conselho Deliberativo, inclusive de figuras que apoiaram sua eleição em 2023. Os atritos tornaram-se mais intensos ao longo dos últimos meses, especialmente após denúncias sobre irregularidades em contratos de patrocínio. Embora as acusações não tenham sido comprovadas judicialmente até o momento, elas alimentaram o ambiente de desconfiança, gerando rupturas na base de apoio do presidente.

Dentro da oposição, há quem acredite que o atual cenário represente uma oportunidade para acelerar o processo de mudança na gestão. Conselheiros mais radicais falam abertamente em nova eleição presidencial ainda em 2025, caso o Conselho acate novos pedidos de impeachment.

Confira os 18 nomes que deixaram cargos de liderança na gestão de Augusto Melo.

O levantamento a seguir reúne os 18 nomes que já deixaram cargos de direção ou superintendência desde janeiro de 2024. Em alguns casos, os desligamentos foram oficialmente comunicados; em outros, houve apenas afastamento não confirmado publicamente, mas percebido nos bastidores.

Rubens Gomes – Diretor de Futebol

Fernando Alba – Diretor-adjunto de Futebol

Yun Ki Lee – Diretor Jurídico

Fernando Perino – Diretor-adjunto Jurídico

Rozallah Santoro– Diretor Financeiro

Fabricio José Vicentim – Diretor-adjunto da Bas

Cris Gambaré – Diretora do Futebol Feminino

Leonardo Pantaleão – Diretor Jurídico

Marcelo Mariano – Diretor Administrativo (afastado, mas ainda atuante nos bastidores)

Susy Miranda – Diretora Social

Pedro Silveira – Diretor Financeiro

Wagner Vilaron – Superintendente de Comunicação

Josiane Ribeiro – Superintendente de Comunicação

Sergio Moura – Superintendente de Marketing

Vinicius Manfredi – Superintendente de Marketing

Luís Otávio Costa – Gerente de Marketing

Sandor Romanelli – Superintendente Comercial

Thales Cezar de Oliveira – Diretor de Relações Institucionais

 

Repercussão entre torcedores e imprensa.

A sequência de demissões vem sendo acompanhada de perto pela imprensa esportiva e tem gerado forte reação entre os torcedores, principalmente nas redes sociais e nos canais de mídia alternativa do clube. Em fóruns e grupos de discussão, torcedores expressam preocupação com o rumo institucional do clube. “Parece que tem mais gente saindo do que entrando no Corinthians. Não tem como planejar nada assim”, escreveu um torcedor em publicação na rede social X.

Jornais de circulação nacional e programas esportivos também dedicaram espaço para comentar a instabilidade no Parque São Jorge. Em entrevista recente, um comentarista esportivo afirmou que “o Corinthians está administrativamente à deriva, mesmo com resultados financeiros positivos”. Outro analista completou: “sem governança, nenhum faturamento se sustenta por muito tempo”.

Impacto no futebol e nas categorias de base.

Embora a crise administrativa ainda não tenha se refletido diretamente em resultados desastrosos em campo, o setor de futebol profissional também já demonstrou sinais de impacto. Em momentos de indefinição e mudanças internas, o departamento de futebol teve que se reorganizar várias vezes, com substituições na diretoria, adjuntos e até em comissões técnicas de categorias de base.

No futebol feminino, a saída de Cris Gambaré, uma das principais articuladoras da modalidade dentro do clube, gerou apreensão sobre a continuidade do trabalho que levou o Corinthians a ser referência no país. Nos bastidores, fala-se em corte de investimentos em algumas frentes, o que poderia comprometer o desempenho nos próximos anos.

O futuro da gestão Augusto Melo.

Com menos da metade do mandato concluído, o presidente Augusto Melo enfrenta seu maior desafio: reconquistar a confiança da comunidade corinthiana, restaurar a estabilidade institucional e consolidar um modelo de governança eficiente. Para isso, será necessário mais do que reorganizações pontuais: o momento exige articulação política, gestão estratégica e capacidade de liderança.

Reprodução  internet/X

Melo, até agora, tem adotado uma postura reativa. A cada nova crise, responde com promessas de reformulação e auditorias internas. Contudo, os resultados práticos ainda não se refletem em mudanças estruturais perceptíveis. Enquanto isso, o ambiente de desconfiança se alastra e o risco de novas perdas de aliados estratégicos aumenta.

O que se desenha para o Corinthians, portanto, é um cenário de incertezas. E diante da pressão crescente, a continuidade da gestão Augusto Melo dependerá de sua habilidade em transformar crise em oportunidade — uma tarefa difícil, mas essencial para garantir não apenas sua permanência no cargo, mas a própria estabilidade do clube em um dos momentos mais delicados de sua história recente.