Após mais de um ano da saída, Cássio revela depressão profunda no fim de ciclo no Corinthians
Pouco mais de doze meses após sua despedida do Corinthians, o ex-goleiro Cássio quebrou o silêncio e revelou publicamente os dramas que enfrentou nos bastidores de sua reta final no clube do Parque São Jorge. Em entrevista concedida nesta quarta-feira ao podcast Cruzeiro Cast, o atual arqueiro da equipe mineira relatou que passou por uma “depressão profunda” nos últimos meses com a camisa alvinegra, condição que influenciou diretamente em sua decisão de rescindir o contrato com o Timão em maio de 2024.
“Eu, hoje, olhando com calma, foi a melhor coisa para os dois lados. Para o Corinthians e para mim. Não tinha força para ajudar. Estava na depressão profunda. Quem me conhece sabe. Quando cheguei (no Cruzeiro), falaram que eu estava com olho fundo. O semblante era totalmente diferente do que tenho hoje. Mas, às vezes, a gente precisa de ajuda”, relatou o goleiro.
Perda da titularidade e rescisão
Durante os meses anteriores à sua saída, Cássio viveu um momento conturbado internamente. Após um desabafo contundente após a derrota para o Argentinos Juniors, na Argentina, o goleiro perdeu espaço no elenco e foi substituído por Carlos Miguel. O episódio, que culminou com uma reunião com a presença da psicóloga Anahy Couto, marcou uma virada emocional importante na trajetória do camisa 12 no clube.
Apesar do histórico vitorioso e da forte identificação com a torcida, o goleiro entendeu que não tinha mais condições psicológicas de contribuir da forma esperada e, diante do interesse do Cruzeiro, optou por rescindir de forma antecipada o contrato que ainda tinha com o Corinthians.
Transição difícil, mas recomeço em Minas Gerais
O início no novo clube também não foi simples. Ainda abatido emocionalmente e enfrentando o peso de deixar para trás uma trajetória de 13 anos em São Paulo, Cássio contou com apoio interno no Cruzeiro para encontrar estabilidade. Em especial, o goleiro citou sua psicóloga Lisandra, o empresário e dono da SAF do clube, Pedrinho, e o vice-presidente Pedro Junio como peças fundamentais para sua retomada.
“Tenho psicóloga, que é a Lisandra, e senti um pouco tudo isso. Mas tive aprendizado. Aprendi com os jogadores, com o Pedrinho, Pedro Junio. Eles nunca viraram as costas para mim, independente de críticas e cobranças”, afirmou.
A virada emocional mais concreta, segundo ele, veio no confronto contra o Vasco da Gama, já pelo Campeonato Brasileiro de 2025, em que ele protagonizou sua melhor atuação com a camisa celeste. “Nesse jogo contra o Vasco, estava muito pressionado. Mas aí você olha o que construiu, chegou, era mais um obstáculo. Pela pressão, a gente precisava muito da vitória. Vem muita emoção”, acrescentou.
Legado eterno no Corinthians
Mesmo fora do clube, o nome de Cássio Ramos permanece gravado de forma definitiva na história do Sport Club Corinthians Paulista. Em seus 712 jogos pelo time do Parque São Jorge, ele acumulou nove títulos, entre eles:
4 Campeonatos Paulistas (2013, 2017, 2018, 2019);
2 Campeonatos Brasileiros (2015, 2017);
1 Copa Libertadores (2012);
1 Mundial de Clubes (2012);
1 Recopa Sul-Americana (2013).
Com essas conquistas, tornou-se o segundo atleta com mais partidas na história do Corinthians, atrás apenas de Wladimir, que soma 806 atuações.
Seu desempenho em momentos decisivos, como na Libertadores e no Mundial de 2012, quando foi eleito o melhor em campo na final contra o Chelsea, lhe renderam o status de ídolo eterno da Fiel Torcida. A despedida, apesar de dolorosa, foi feita com respeito mútuo e consciência de que seu ciclo precisava ser encerrado.
Saúde mental no futebol: uma pauta urgente
O relato de Cássio reacende o debate sobre a importância da saúde mental dos atletas de alto rendimento. Em um ambiente onde a pressão por resultados é constante e a margem para falhas é mínima, são cada vez mais comuns os casos de jogadores que enfrentam episódios de depressão, ansiedade e outros transtornos psicológicos.
O próprio goleiro reconhece que só conseguiu buscar ajuda ao perceber o quão deteriorado estava. Seu depoimento é um alerta não apenas para clubes, mas também para torcedores e a imprensa, sobre a necessidade de empatia e estrutura de apoio emocional nos bastidores do futebol.
Um novo capítulo
Aos 38 anos, Cássio vive uma nova fase de sua carreira com a camisa do Cruzeiro, com quem já soma 54 partidas. Mesmo longe do auge físico de outrora, o goleiro demonstra evolução emocional, estabilidade e, acima de tudo, gratidão por ter reencontrado seu lugar dentro das quatro linhas.
A história de superação, marcada por títulos, tropeços e recomeços, reforça o legado de um dos maiores goleiros da história do Corinthians e também simboliza a importância de acolher, escutar e apoiar quem, muitas vezes em silêncio, enfrenta suas próprias batalhas.