Confusão nos bastidores: nomeação não oficial de Carlos Roberto Elias gera turbulência no futebol feminino do Corinthians

Publicação precipitada gera mal-estar interno, enquanto Íris Sesso segue oficialmente à frente do departamento.

O departamento de futebol feminino do Sport Club Corinthians Paulista viveu, nos últimos dias, um episódio incomum e que gerou surpresa tanto nos bastidores do clube quanto entre atletas e membros da comissão técnica.

O ex-conselheiro Carlos Roberto Elias anunciou publicamente, no dia 22 de abril, por meio de suas redes sociais, que assumiria a função de diretor do futebol feminino do Timão. A postagem, que continha tom institucional, foi seguida de declarações à imprensa em que o advogado criminalista falava como se estivesse oficialmente investido no cargo.

Reprodução internet/TV  Tatuape

No entanto, a nomeação nunca foi oficializada pela presidência do clube. O presidente Augusto Melo não concluiu qualquer acordo formal com Carlos Elias. Posteriormente, em nota oficial publicada no site do clube, o Corinthians confirmou que houve, de fato, uma aproximação entre as partes e o início de tratativas, mas que estas não se concretizaram.

O Sport Club Corinthians Paulista informa que houve um início de tratativa com Carlos Elias, que não se confirmou, mas a gestão atual está estudando um melhor espaço para contar com a ajuda dele em somar sempre em prol do Clube. Íris Sesso é a diretora do futebol feminino e responsável pelo departamento” esclareceu o clube por meio de comunicado oficial.

Íris Sesso permanece como a principal liderança no futebol feminino

Apesar da especulação provocada pelo anúncio de Carlos Roberto Elias, a diretoria do departamento feminino permanece sob a liderança de Íris Sesso. A gestora, que ocupa o cargo desde março de 2023, quando substituiu Cris Gambaré – esta última atualmente ligada à Seleção Brasileira Feminina –, segue conduzindo as atividades administrativas da modalidade de forma remunerada.

Além de Íris, o futebol feminino do Corinthians também conta com a presença da ex-jogadora Grazi, que ocupa o posto de diretora-executiva e desempenha funções estratégicas no desenvolvimento da equipe, especialmente no que diz respeito ao fortalecimento da base e à transição de atletas para o time principal.

Caso tivesse sido efetivado, Carlos Roberto Elias atuaria de maneira estatutária, sem remuneração, o que marca uma distinção relevante em relação à atual estrutura administrativa do departamento. A escolha de Íris Sesso, portanto, reflete não apenas uma decisão técnica e estratégica da atual gestão, mas também a consolidação de um modelo de gestão profissional e dedicado ao futebol feminino corinthiano.

Publicação precipitada nas redes sociais gera constrangimento

O episódio ganhou proporções ainda maiores após a postagem feita por Carlos Elias em seu perfil na rede social X (antigo Twitter). No texto, ele escreveu:

O futebol feminino do Corinthians é referência no Brasil e na América do Sul. Assumir essa diretoria é uma honra e um compromisso com a continuidade da excelência, buscando mais investimentos, suporte técnico e institucional para manter a competitividade em alto nível”.

Reprodução/X

A publicação rapidamente repercutiu entre torcedores, membros do clube e a imprensa esportiva. As palavras escolhidas por Carlos indicavam não apenas o início de sua atuação, mas também um comprometimento com os valores e objetivos do departamento.

A despeito da negativa oficial do clube, até a data da publicação desta reportagem, o ex-conselheiro ainda mantinha a descrição do cargo em sua biografia no X, o que reforça o grau de descompasso entre sua manifestação pública e a realidade institucional.

Reprodução internet/ X

Presença no CT sem oficialização incomoda elenco e comissão técnica.

Mesmo sem contar com uma nomeação formal, Carlos Roberto Elias passou a frequentar o <b>Centro de Treinamento do futebol feminino do Corinthians nos dias subsequentes ao seu anúncio. Chegou inclusive a conceder entrevista ao portal ge.globo, no dia 28 de abril, em que comentou o processo de reformulação do elenco alvinegro e pediu paciência à torcida em razão das mudanças que vêm ocorrendo na equipe.

Entretanto, a ausência de uma apresentação oficial foi notada e comentada por jogadoras e membros da comissão técnica. Após a vitória do Corinthians sobre o Grêmio, pela rodada do Campeonato Brasileiro Feminino, a goleira Nicole Ramos abordou a situação na zona mista do estádio da Fazendinha:

Formalmente ele não se apresentou para a gente, mas a gente já viu ele algumas vezes no dia a dia. Referente ao trabalho, não mudou muita coisa. Acho que a Íris continua à frente. Ele vem para auxiliar ela, mas o comando continua com a Íris, ela que está à frente da gente fazendo esse gerenciamento. A gente ainda não o conheceu formalmente, mas já vimos ele no CT”.

Na mesma linha, o técnico Lucas Piccinato optou por minimizar o ocorrido, ressaltando que o foco da equipe está nos compromissos em campo e não nas movimentações administrativas:

Na verdade, a gente está nesse momento passando por uma sequência muito grande de jogo, então a gente não tem muito tempo para desfocar daquilo que é o mais importante, que é o dia a dia de treino e obviamente o jogo em si (…) Não teve muito tempo para apresentações ou para parar o momento. A gente sabe que questões políticas do clube estão muito fortes nesse momento, mas a gente está muito preocupado em fazer o nosso time jogar”.

Trajetória de Carlos Roberto Elias dentro do clube.

Embora não tenha sido confirmado como diretor do futebol feminino, Carlos Roberto Elias não é um nome estranho aos bastidores do Parque São Jorge. Sua trajetória no clube remonta aos anos 2000, tendo exercido diversos cargos ao longo de mais de uma década de envolvimento direto com a política alvinegra.

Entre os anos de 2007 e 2018, Carlos foi conselheiro do Corinthians, período em que esteve alinhado ao grupo político do ex-presidente Andrés Sanchez. Também integrou o Conselho de Orientação (Cori), além de ter exercido funções ligadas à diretoria cultural e à responsabilidade social do clube.

A aproximação de Carlos com a atual gestão presidida por Augusto Melo parecia sinalizar um retorno a posições de influência dentro da estrutura alvinegra, desta vez em um setor em pleno crescimento e visibilidade. O futebol feminino do Corinthians, referência nacional e sul-americana, apresenta resultados consistentes e uma base sólida de atletas, profissionais e torcedores.

No entanto, o episódio levanta questionamentos sobre a forma como o clube vem conduzindo as nomeações para cargos estratégicos, especialmente no que diz respeito à comunicação interna e à transparência com o elenco e a torcida.

Impacto institucional e necessidade de maior organização interna.

A sequência dos acontecimentos revela uma certa desorganização institucional no trato com assuntos sensíveis. O futebol feminino, apesar de sua consolidação no cenário esportivo brasileiro, ainda enfrenta obstáculos relacionados ao reconhecimento, financiamento e autonomia dentro de grandes clubes como o Corinthians.

A movimentação precipitada  e a ausência de uma resposta imediata por parte da diretoria expuseram fragilidades na gestão da comunicação interna e também na definição clara de papéis e responsabilidades.

Embora o clube tenha reafirmado o comando de Iris Sesso e a intenção de “buscar um espaço” para Carlos, a situação reforça a importância de processos formais bem delineados para evitar ruídos desnecessários. A credibilidade de um departamento estruturado, com conquistas expressivas e uma base consolidada, depende também da coesão administrativa e do respeito às instâncias decisórias.

A expectativa, segundo fontes próximas à diretoria, é de que o clube reforce a estrutura administrativa da modalidade com maior planejamento e critério, respeitando as trajetórias consolidadas e fortalecendo a imagem do futebol feminino alvinegro dentro e fora de campo.

Enquanto isso, a torcida aguarda que o clube supere os ruídos recentes e continue valorizando uma das principais forças do Corinthians nos últimos anos: o protagonismo das mulheres em preto e branco.