Gaviões da Fiel cobra diretoria

Torcida Organizada Gaviões da Fiel Cobra Transparência e Responsabilização de Augusto Melo Após Reprovação de Contas

A crise institucional que assola o Sport Club Corinthians Paulista ganhou contornos ainda mais dramáticos após a rejeição das contas relativas ao primeiro ano de gestão do presidente Augusto Melo. Em meio à crescente desconfiança interna e externa, a principal torcida organizada do clube, Gaviões da Fiel, emitiu uma nota contundente cobrando explicações e responsabilização da atual diretoria pelos números alarmantes apresentados no balanço financeiro de 2024.

A manifestação da Gaviões, que acompanhou presencialmente a reunião do Conselho Deliberativo realizada na última segunda-feira (28), não se limitou a uma crítica pontual. Em tom incisivo, a nota publicada na madrugada seguinte classificou a gestão como marcada por “amadorismo” e alertou que “não há mais espaço para amadores no Parque São Jorge”, fazendo referência à sede do clube.

A Gravidade dos Números

A insatisfação da torcida organizada tem como pano de fundo a reprovação das contas pela maioria dos conselheiros presentes na votação: foram 130 votos contrários ao balanço, contra 73 favoráveis, com 6 abstenções. A rejeição ocorreu apesar de o presidente ter alegado um faturamento recorde de R$ 1,1 bilhão, valor que, segundo o Conselho de Orientação (CORI), foi ofuscado pelo crescimento descontrolado da dívida.

Segundo o parecer técnico do CORI, o passivo total do clube aumentou R$ 829 milhões em comparação ao ano anterior, o que representa um salto preocupante no endividamento da instituição. Além disso, o déficit operacional apurado foi de R$ 181,7 milhões — valores que acenderam um sinal de alerta entre membros da oposição, da base aliada e, sobretudo, entre os próprios torcedores.

O CORI chegou a classificar a gestão de Augusto Melo como “temerária” e recomendou formalmente seu afastamento para que a estabilidade institucional do Corinthians seja preservada. Essa declaração é especialmente grave em um clube que, ao longo dos últimos anos, tem enfrentado sucessivas dificuldades financeiras, muitas das quais atribuídas à falta de governança e de responsabilidade administrativa.

Exigência de Respostas Imediatas

Em sua nota oficial, a Gaviões da Fiel detalhou as principais inquietações relativas à condução administrativa do clube e exigiu que o presidente venha a público prestar esclarecimentos urgentes. A torcida cobra explicações claras sobre:

  1. O aumento expressivo do passivo em R$ 829 milhões ao longo do ano de 2024;

  2. O déficit de R$ 181,7 milhões registrado no exercício financeiro;

  3. A ausência de resposta da diretoria aos órgãos internos do clube sobre divergências contábeis;

  4. Os critérios adotados na contratação de prestadores de serviço.

detalhamento-das-demonstracoes-financeiras-2024 - foto reprodução
detalhamento-das-demonstracoes-financeiras-2024 – foto reprodução

O documento publicado pela Gaviões denuncia ainda a postura considerada omissa e conivente do Conselho Deliberativo, ao qual acusa de manter-se “politicamente alinhado a interesses particulares que colocam o futuro do Corinthians em risco”. De acordo com a torcida, o estatuto social do clube está defasado e impede que administradores sejam devidamente responsabilizados por decisões equivocadas.

“Seguiremos no Parque São Jorge ao longo da semana para cobrar respostas e acompanhar os próximos passos. Reafirmamos nosso compromisso com a Fiel Torcida de buscar todas as respostas, pois não defendemos nenhum dos lados, estamos, como sempre, ao lado da instituição Corinthians”, afirma a diretoria da Gaviões na nota.

Repercussão Política e Institucional

A reprovação das contas não apenas fragiliza politicamente Augusto Melo, como também pode servir de base para a abertura de novo processo de impeachment. A rejeição do balanço anual, especialmente após a recomendação negativa do CORI e do Conselho Fiscal, compromete seriamente a permanência do mandatário no cargo.

Em parecer técnico divulgado antes da votação, o CORI destacou que a atuação do atual presidente coloca em risco a adesão do clube ao Profut — Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro —, uma vez que a irresponsabilidade fiscal pode gerar sanções legais e esportivas à instituição.

O relatório reforça ainda que, mesmo diante das contingências herdadas de gestões anteriores — estimadas em R$ 191 milhões —, a atual diretoria falhou em apresentar medidas eficazes de contenção e planejamento estratégico. “Entendemos que é obrigação deste órgão fiscalizar, bem como neste ato a reprovação preserva a instituição junto aos órgãos de controle como o Profut, demonstrando a efetividade dos órgãos internos de fiscalização”, diz um trecho do ofício oficial.

Instabilidade na Diretoria Financeira

O episódio ganha contornos ainda mais complexos diante da recente renúncia de Pedro Silveira, então diretor financeiro do clube. Silveira, que alegou motivos de saúde, deixou o cargo dias antes da votação das contas e ainda não foi oficialmente substituído.

Durante a reunião do Conselho Deliberativo, a responsabilidade pela apresentação dos números coube ao diretor cultural Raul Corrêa, autorizado por Augusto Melo a representar a gestão no debate contábil. Corrêa não é especialista na área financeira, o que gerou desconforto entre conselheiros e membros do CORI.

Além dele, Luiz Ricardo Alves, conhecido como “Seedorf” nos corredores do Parque São Jorge, também participou da apresentação técnica. Ambos foram criticados pela superficialidade das justificativas e pela ausência de documentação complementar que pudesse atestar a veracidade das alegações.

Rumo Incerto

O cenário institucional do Corinthians segue indefinido e turbulento. Nos próximos dias, são esperadas novas manifestações da Gaviões da Fiel, que promete abordar outros temas relevantes para a torcida. No sábado seguinte à reunião do Conselho, está prevista uma assembleia entre os sócios da torcida organizada, ocasião em que deverá ser emitido um novo posicionamento oficial.

Entre os torcedores comuns, a sensação é de frustração e revolta. O clima nas arquibancadas tem oscilado entre o apoio incondicional ao clube e a indignação com os rumos administrativos. A reprovação das contas, somada às declarações dos órgãos fiscalizadores e da Gaviões, pode consolidar uma crise de confiança sem precedentes.

A responsabilidade agora recai sobre Augusto Melo, que precisará não apenas responder aos questionamentos técnicos, mas também reconquistar a legitimidade política dentro do clube. Sua permanência na presidência dependerá da habilidade em demonstrar transparência, responsabilidade e comprometimento com as diretrizes institucionais do Corinthians — algo que, segundo a maior torcida organizada do clube, ainda está em débito.